7.15.2005

Há horas para tudo

Sem medo eu digo a mim mesmo que não é preciso precipitar nada na vida. POrque há um tempo próprio para tudo o que se sucede na nossa vida, até porque há uma certa necessidade de sucessão dos eventos que geramos. Ultimamente tem sido mais natural escrever. Tem sido fácil parar e esperar que a fotografia, o desenho, a pintura e a escultura se restabeleçam aguardando deitados pela força dos signos. A inacção tem criado potencial criador. O descanso do guerreiro foi merecido mas agora é hora de teorizar e de registar com letras as desventuras do início das minhas férias.

Cada vez mais se torna urgente escrever um tributo aos mortos vivos. Estes mortos não estão longe de viver para si mesmos mas viveram durante demasiado tempo longe de mim para que os sinta vivos ou sequer para saber que respiram.

Há listas intermináveis de amigos que se embrulharam na distância própria do tempo e não do espaço. São pessoas das quais não adiantava mencionar apenas os nomes. São profundas e deixaram-se ficar nas profundezas. Umas mais obcuras, outras mais ternas. Todas as pessoas que amam uma vida distante da minha estão indelevelmente mortas-vivas.

Sempre pensei que iria começar a escrever sobre esta sensação de morte numa hora mais propícia. Como eu adoro a noite, e o silêncio que se gera enquanto “os estúpidos dormem”, sempre sonhei como uma prefusão de frases a fluir no teclado entre as 2 e as 3 da manhã. Prolongando-se num exercício de estilo muito parecido com um cigarro vejo as palavras aglomerarem-se imageticamente assim… um ladrilhar lento de prazer para quando não se consegue comer… nem pintar… nem dormir… nem amar… nem… arder na nossa fornalha de combustão interna. Vejo as palavras como o silêncio de quem pensa. Não as consigo sentir como próprias. Sempre pensei que ao contrário das coisas que abraço e toco com paixão a escrita acaba por ser como a música - uma gramática que se aprende. Um signo que outros criaram e e refinaram juntamente com um significado que para mim funciona como um peso frustrante.

Apesar de todo este esforço extra chegou a hora de tentar arder silenciosamente desta maneira. Não chega entregar aos outros os sons que nos ensinaram. Nem abrir as portadas do que é forte em nós para que o mundo veja. Porque as horas madrugadoras da manhã em que comecei a escrever me lembram coisas simples. Escrever é um anacronismo para mim. Preciso de o abraçar como uma necessidade. Apesar desta falta de estilo, deste pudor em olhar cada letra como uma coisa que me obrigaram a usar na escola eu acredito que posso ultrapassar várias limitações minha com este exercício semi-criativo.

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