Can’t tell
Dono
Can't work it out
This unbearable feeling that restrains me from being completely free is probably the same feeling that stops me from being completely crazy.
I wish I could stay here with those who love me back exactly the same way I love them.
Live Strong
Living Strong I know I LIVESTRONG
On the top of the tallest building of the world's capital I admire the beauty I can't explain.
The beauty that forces us to see things differently. These buildings are everything I always despised: capitalism, money, egos based on the material world, pollution, consumerism, competition, urban chaos... and yet I must admit it is as beautiful as the Alps. As soft as a forest with extremely large trees.
I can't believe I bought something in Macy's. I can't believe I was in Basquiat's Soho and Keith Haring's tube. Central park made me think. Guggenheim gave me Frank Loid Wright's ideal museum. China town and statue of Liberty are so well together in that city of freedom. MOMA contradicted Ian and everything we argued about museums -> nothing is dead while someone looks at it. Metropolitan Museum is a monster. Time Square is just as if you could have Piccadilly 20 times bigger. Skyline is a shape I never saw before. The 5th avenue shows how easy to buy everything is. Blue Note is expensive but has great free jazz concerts. Time and Style are some of the things you have to reconsider when you go to New York... And I keep thinking of York and asking for pints in New York lounges and saying "Cheers" when they give the frozen glass I was kind of expecting while gazing the sky scrapers from the top of the world. I can't understand what I felt but I know I would love to live in the most outstanding city in the world for a year or two. London or New York? In their own way the cities that surprised me the most. But I'm telling you there is nothing like Lisbon, I simply need to be away and miss it.I already do. But one day I'll be back in her arms just because I want to share everything with you Lisboners...
7.23.2005
7.22.2005
7.18.2005
New York das partidas partilhadas
Hoje já o sol nasceu e mais uma vez eu não dormi. As pessoas perguntam-me se é por andar a pintar… e também porque é que não estou eufórico por partir para a capital do mundo. Nunca escrevi aqui sobre estas coisas de ter uma vida concreta e outra em que me vou criando... mas é por essas bandas que habita a explicação.Nessa outra vida eu vivo um filme em que sou simultâneamente realizador e protagonista. Nesse mundo que criei sozinho está quase sempre a chover mas isso não me faz triste. Quando fui para lá comecei um ciclo infernal de partidas e chegadas, encontros e desencontros, coisas que se foram fundindo e tornando uma mesma coisa. A ponto de eu não saber o que é casa e o que é sonho. Lá sonho em inglês e quando lá cheguei morreu toda a gente que eu conhecia no mundo. Restaram apenas alguns livros que me tinham ajudado a chegar a uma ilha em que tive de criar um quarto com lixo que apanhei. Não havia água... apenas cervejas de muitas cores diferentes. Nâo havia obrigação de amar, nem de partilhar e no entanto isso foi o que se manteve constante em mim. A filosofia, a poesia, a ciência e a psicologia ajudaram a tornar tudo muito mais intenso. Mas o pior foram as pessoas que deixei cá no quadrilatero. As pessoas que amo. Os rapazes e as raparigas ostra… Quero amar esta gente tanto que as faça acordar para o que elas próprias mais desejam. Perco-me. Esqueço. Sofro por partir outra vez e por não voltar a estar com tempo aqui no sítio onde cresci… até para o ano pessoas que amo. Até já.
Comprei um grande livro de Rilke. No mesmo dia o absurdo aconteceu e meti o Harry Potter no mesmo saco. E pior é que isto não é sarcasmo. Absurdos... como é que é possível adorar ver desenhos animados aos domingos de manhã e só ter prazer a ver obras primas da história do cinema? Como é possível amar tanto alguém que não pode ser amada?
Comprei um grande livro de Rilke. No mesmo dia o absurdo aconteceu e meti o Harry Potter no mesmo saco. E pior é que isto não é sarcasmo. Absurdos... como é que é possível adorar ver desenhos animados aos domingos de manhã e só ter prazer a ver obras primas da história do cinema? Como é possível amar tanto alguém que não pode ser amada?
7.16.2005
Vale a pena verificar como o ópio do povo arde como as drogas pesadas na chaminé de uma qualquer morgue deste mundo:http://www.ooze.com/toolofsatan/
Eu e Tu
Quando sentimos essa dormência que nos rodeia o cérebro estamos a inibir-nos através dos receptores de adenida, de ácidos butíricos ou de endo-canabinoides? Aba ou Maba. E siglas que nos acarinham uma passado quase scientífico que se manifesta na forma de amor. Dores que se gritam quando reconhecemos alguém que como nós atinge alguém com uma bala perfurante e foge. Alguém que sabe que a música alimenta mas não liberta. Não é pelo som que me uno aos meus amigos. Não é com intrumentos que faço amigos. Porque nada para lá da fogueira da figura pintada e esculpida engloba mais do que a dor que sinto. Nada me faz esquecer a barba que cresce e que não faço e o cabelo que cai e que não cresce. Estou feliz só por não me ter destruido até este dia magnífico que não me vai esquecer. Loiras boas falam para mim na televisão e tentam seduzir-me mas nada ultrapassa a presença dessa miuda que amo como nenhuma outra. Que se senta ao meu lado no sofá em tom de prazer proibido. O pecado de saber que uma festinha é mais infiel do que qualquer palavra de amor. Os meus poemas vão surgir mas preciso de saber que as pessoas comentam sem me assutar. Sem dizer que pertencem à minha familia ou que são minhas amigas.
Eu eu Eu Eu
Eu Eu Eu
Eu eu Eu Eu
Eu Eu Eu
Eu eu Eu Eu
Tu tu tu tu tu tu
Tu tu tu
Tu tu tu
Tu tu tu
Eu eu Eu Eu
Eu Eu Eu
Eu eu Eu Eu
Eu Eu Eu
Eu eu Eu Eu
Tu tu tu tu tu tu
Tu tu tu
Tu tu tu
Tu tu tu
Uma noite
Acabei agora de viver uma noite memorável. Uma noite em que me apercebi que posso fazer uma exposição baseada exclusivamente no pictionary. Filmando quem desenha e quem adivinha. Partilhando numa superfície simples os desenhos feitos em menos de um minuto que colori a posteriori. Sem explicação partilhei sangue de um filósofo que apesar de tudo ainda admiro. Partilhei a bebida sagrada do egípcios. Partilhei a folga de quem constroi uma pirâmide. Estivemos a sentir as capacidades telepáticas exclusivas de irmãos e de namorados. Ouvimos os gritos uns dos outros como se de sussurros se tratassem. Criei amigos sem pedir nada em troca ao mundo. Andei preocupado com uma rapariga linda que não pode sentir nem saber como a indecisão pode ser tão autodestrutiva. Depois telefonei a um amigo que me vai mostrar o lado doce do capitalismo numa capital que já me preenche antes de a conhecer. Segunda estou em New York a perguntar a mim mesmo como é que fui ali parar. Está na hora de olhar para o mosquiteiro e fechá-lo só porque as mosquitas precisam do meu sangue para criar os seus ovos.
Nesta paragem que fiz, resolvi não beber só o sangue de quem tentou ensinar a humanidade a amar. Fui busca o corpo do pão para me ajudar a sentir. Os mosquitos aproveitam-se do gradiente de CO2 para se aproximar de mim. Mas eu preciso de respirar. Preciso de sentir o ar a passar pelos meus alvéolos pulmonares. Não chega aproximar percentagens. Não chega dizer que o azoto está a 79% e o O2 a 21%. Não há aproximações. Sinto o ar como um somatório de sucessões que ultrapassam as proporções de fibonaci há muito. Numa perfeição para lá do estético. A proporção natural. Nem o número de ouro é tão natural como isto de sentir o ar quente de uma noite de verão invadir o meu corpo que alimento com vinho e pão. Acredito no amor como um alcoólico acredita no vinho. A vida é tão agridoce que o nada nos pode levar mais facilmente à verdade de uma via, do que a dor de sentir tudo. Cada detalhe. Cada desejo. As pessoas que me rodeiam passam a ser pedras que olho como amostras no meu primeiro estojo de geologia: chave dicotómica que me ajuda a determinar arquétipos que ainda se deviam escrever com ch. Os meus reflexos não são nada. Os mosquitos já parecem moscas. Rápidos como a nossa sombra: já não chega ser o Luckie Luke.
Há sempre uma supresa no que se vive. Ela vem sempre embrulhada em prazer ou em dor. Sem aforismos tudo se torna fluído como o inesperado.
Saboreio cada golfada deste gás composto também por gases nobres: sinto cada átomo de hélio. Afasto os mosquitos só com o olhar. Ouço o solo do Jimmy Hendrix como se fosse a primeira vez. Adoro delirar com gritos de manhã. Adoro relembrar essas subtilezas a que as pessoas chamam a intimidade dos outros. Há palvras que nunca deviam estar juntas.
Hermano nunca devia estar perto de qualquer vocábulo exclusivamente português como saudade e muito menos na mesma frase.
E as ideias que eu sonhei durante este ano sempre em inglês? Onde é que está a nacionalidade do amor? As baterias do computador estão a meio. Não chega escrever na sala ao som de um aplificador BO e colunas Kief porque os cabos estão todos velhos. Não chega ter canais sempre a passar biografias. Não chega amar quem não sabe que nos ama. Tudo se torna inútil quando não sabemos e sentimos os poetas que escreveram ainda agora que “tudo vale a pena se alma não é pequena”. Será que os portugueses têm uma alma pequena? Será que o declínio da humanidade passa pela arrogância de um momento em que acreditaram em paz e amor? Não chega um bom vinho a jorrar num belo decanter... Nem um livro de um realizador de cinema que sente como eu. Não chega ser amor nem sonho. Sou uma pessoa que vai morrer e que faz disso a sua força sem acreditar em qualquer tipo de ilusões.
Nesta paragem que fiz, resolvi não beber só o sangue de quem tentou ensinar a humanidade a amar. Fui busca o corpo do pão para me ajudar a sentir. Os mosquitos aproveitam-se do gradiente de CO2 para se aproximar de mim. Mas eu preciso de respirar. Preciso de sentir o ar a passar pelos meus alvéolos pulmonares. Não chega aproximar percentagens. Não chega dizer que o azoto está a 79% e o O2 a 21%. Não há aproximações. Sinto o ar como um somatório de sucessões que ultrapassam as proporções de fibonaci há muito. Numa perfeição para lá do estético. A proporção natural. Nem o número de ouro é tão natural como isto de sentir o ar quente de uma noite de verão invadir o meu corpo que alimento com vinho e pão. Acredito no amor como um alcoólico acredita no vinho. A vida é tão agridoce que o nada nos pode levar mais facilmente à verdade de uma via, do que a dor de sentir tudo. Cada detalhe. Cada desejo. As pessoas que me rodeiam passam a ser pedras que olho como amostras no meu primeiro estojo de geologia: chave dicotómica que me ajuda a determinar arquétipos que ainda se deviam escrever com ch. Os meus reflexos não são nada. Os mosquitos já parecem moscas. Rápidos como a nossa sombra: já não chega ser o Luckie Luke.
Há sempre uma supresa no que se vive. Ela vem sempre embrulhada em prazer ou em dor. Sem aforismos tudo se torna fluído como o inesperado.
Saboreio cada golfada deste gás composto também por gases nobres: sinto cada átomo de hélio. Afasto os mosquitos só com o olhar. Ouço o solo do Jimmy Hendrix como se fosse a primeira vez. Adoro delirar com gritos de manhã. Adoro relembrar essas subtilezas a que as pessoas chamam a intimidade dos outros. Há palvras que nunca deviam estar juntas.
Hermano nunca devia estar perto de qualquer vocábulo exclusivamente português como saudade e muito menos na mesma frase.
E as ideias que eu sonhei durante este ano sempre em inglês? Onde é que está a nacionalidade do amor? As baterias do computador estão a meio. Não chega escrever na sala ao som de um aplificador BO e colunas Kief porque os cabos estão todos velhos. Não chega ter canais sempre a passar biografias. Não chega amar quem não sabe que nos ama. Tudo se torna inútil quando não sabemos e sentimos os poetas que escreveram ainda agora que “tudo vale a pena se alma não é pequena”. Será que os portugueses têm uma alma pequena? Será que o declínio da humanidade passa pela arrogância de um momento em que acreditaram em paz e amor? Não chega um bom vinho a jorrar num belo decanter... Nem um livro de um realizador de cinema que sente como eu. Não chega ser amor nem sonho. Sou uma pessoa que vai morrer e que faz disso a sua força sem acreditar em qualquer tipo de ilusões.
7.15.2005
João Pinheiro
Depois de termos passado férias juntos em anos imemoriais de Algarve e de termos partilhado tricículos… Achei estranho chegar ao meu primeiro dia na Escola primária e ver caras conhecidas como a do João. Ele corria rápido e passava os intervalos a jogar futebol. Por oposição eu tive de aprender a correr e sempre odiei jogar futebol. Adorava todos os outros jogos mas não conseguia ver o futebol como muito mais do que uma humilhação pública de uns para que outros se exibissem. Baseado quase exclusivamente na formação das equipas eu conseguia prever o resultado com uma exactidão admirável. E no um para um ver o João a fintar e humilhar os nossos amigos era um perfeito desprazer. Apesar da imensa pressão que senti para jogar esse jogo, que por estas bandas é sinónimo de popularidade, eu aguentei o barco com tudo o que não tinha a ver com o acto de driblar, fintar, centrar, rematar… As poucas vezes que aceitei jogar senti uma necessidade incontrolavel de derrubar quem me fintava. Eu gostava do passe e das trocas de bola mas quando se jogava futebol essas coisas não aconteciam. Os golos resultavam sempre com uma iniciativa individual de um qualquer leve e ágil como o João. Nunca tive sentimentos de inferioridade física relativamente a ele por uma simples razão: volta e meia ele irritava-me e eu ameaçava-o de punhos fechados enquanto ele fugia de mim como o diabo da cruz. Aliás esse (des)equilíbrio foi mantido até bastante tarde.
Nas férias grandes da segunda classe o João e eu sonhavamos com uma rapariga que era a paixão da turma toda: a Carmo. Numa quebra espontânea de simetria todos os rapazes da nossa turma se apaixonaram pela Carmo e isso foi uma coisa que estranhamente criou bom ambiente. Ainda me lembro dos concursos de cabeçadas na mesa… só para tentar provar quem gostava mais dela. O vencedor foi o João Pedro “gordo” que no meio de uma quase loucura se condenava a si mesmo a uma penitência de que certamente se arrepende.
Mas eu e o João numa dessas férias de 3 meses falavamos sobre a Carmo e em como as saudades e as memórias que tinhamos dela só tornavam os sentimentos mais intensos e nítidos. Depois de termos passado horas a jogar spectrum e de o João me mostrar como conseguia apanhar com a boca um aperitivo depois de o atirar ao ar, montamos uma cama cor de laranja que só me fazia lembrar uma prancha de windsurf daquelas que o meu avô guardou na garagem durante décadas. Fomos dormir e conversar sobre a ideia de saudade e de “Carmo” sem saber muito bem que isso significava.
Durante o ano, quando ia lá passar uma tarde, notava que ele fazia os trabalhos todos em meia hora enquanto eu passava tardes inteiras a faze-los e a olhar para o tecto. Para mim fazer os trabalhos era quase o mesmo do que estar à secretária entediado e sabendo que tinha uma obrigação para cumprir. E o meu prazer era esse: saber o que tinha de trabalhar sem o fazer. O João tinha a praceta e uma vontade imensa de acabar os trabalhos para ir correr e jogar à bola.
Ele também tinha um cofre. Nesse cofre guardava dinheiro e objectos menos aceitaveis. Lembro-me que um dos seus maiores segredos era o preservativo que guardava lá. Nunca percebi se o tinha apanhado usado e depois lavado ou se tinha aberto uma embalagem nova… Mas oque importa é que nós com 8 anos conversavamos em grandes grupos sobre esse preservativo. O tamanho… Mas como seria possível ter uma pila tão grande? Será que isso dava algum jeito para andar e correr? Será que crescia assim tanto? Perguntas e perguntas a que iamos tentando responder…
Um dia fomos ao circo e acabamos em casa do João em frente a uma folha grande de papel sem conseguirmos expressar o que tinhamos imaginado enquanto viamos os trapezistas. Nesse dia percebi que a persistência é crucial na criatividade porque ele desistiu imediatamente.
O João tinha um irmão com o meu nome: o Manel Pinheiro. Tratava-o muito mal. Eu não percebia porquê mas um dia em Andorra numas férias de Neve lembro-me de chorar secretamente enquanto o Manel gritava e chorava para o João e lhe perguntava porque é que não gostava dele. A música veio mais tarde resolver essa questão.
Para além destas memórias que ainda guardo do João falta falar das “bocas irónicas” e desagradaveis que mandava quando fomos para a escola preparatória, da bateria que ele aprendeu a tocar com o pai dele, das bandas, do bar Rookie onde eu nunca fui, da Pingas que se apaixonou por ele depois de uma jogo de “bate pé” quando eu gostava secretamente dela. Finalmente o João foi para letras e eu para ciências. Perdi o contacto. Só o via de quando em quando no liceu. Nunca falamos de nada. Nos anos de faculdade voltamos a falar uns bocados nas férias que passamos perto da Tavira com as nossas famílias. Nunca aconteceu nenhum tipo de partilha ou simpatia até ao dia de ontem em que conversamos sobre os nossos percursos e ele me confessou que é a personificação de Portugal e dos seus medos e problemas. Tirou filosofia. Quer dedicar-se á música. Escreve trabalhos académicos com facilidade mas tem vergonha da escrita criativa:
- Português é uma língua mais adequada à poesia do que à filosfia… - diz ele tom de desculpa apesar de ter um certo fundo de verdade. Atirei-lhe uns títulos de um livros desses que viveram comigo. Livros que amei e amo. Livros que se degradam quando se abrem. A leitura da filosofia e da poesia destroi o livro que a contem. Falamos do Francisco. Esse sim foi morto pelo absurdo absoluto. Fica assim o registo de mais um morto-vivo que me falou da morte.
Nas férias grandes da segunda classe o João e eu sonhavamos com uma rapariga que era a paixão da turma toda: a Carmo. Numa quebra espontânea de simetria todos os rapazes da nossa turma se apaixonaram pela Carmo e isso foi uma coisa que estranhamente criou bom ambiente. Ainda me lembro dos concursos de cabeçadas na mesa… só para tentar provar quem gostava mais dela. O vencedor foi o João Pedro “gordo” que no meio de uma quase loucura se condenava a si mesmo a uma penitência de que certamente se arrepende.
Mas eu e o João numa dessas férias de 3 meses falavamos sobre a Carmo e em como as saudades e as memórias que tinhamos dela só tornavam os sentimentos mais intensos e nítidos. Depois de termos passado horas a jogar spectrum e de o João me mostrar como conseguia apanhar com a boca um aperitivo depois de o atirar ao ar, montamos uma cama cor de laranja que só me fazia lembrar uma prancha de windsurf daquelas que o meu avô guardou na garagem durante décadas. Fomos dormir e conversar sobre a ideia de saudade e de “Carmo” sem saber muito bem que isso significava.
Durante o ano, quando ia lá passar uma tarde, notava que ele fazia os trabalhos todos em meia hora enquanto eu passava tardes inteiras a faze-los e a olhar para o tecto. Para mim fazer os trabalhos era quase o mesmo do que estar à secretária entediado e sabendo que tinha uma obrigação para cumprir. E o meu prazer era esse: saber o que tinha de trabalhar sem o fazer. O João tinha a praceta e uma vontade imensa de acabar os trabalhos para ir correr e jogar à bola.
Ele também tinha um cofre. Nesse cofre guardava dinheiro e objectos menos aceitaveis. Lembro-me que um dos seus maiores segredos era o preservativo que guardava lá. Nunca percebi se o tinha apanhado usado e depois lavado ou se tinha aberto uma embalagem nova… Mas oque importa é que nós com 8 anos conversavamos em grandes grupos sobre esse preservativo. O tamanho… Mas como seria possível ter uma pila tão grande? Será que isso dava algum jeito para andar e correr? Será que crescia assim tanto? Perguntas e perguntas a que iamos tentando responder…
Um dia fomos ao circo e acabamos em casa do João em frente a uma folha grande de papel sem conseguirmos expressar o que tinhamos imaginado enquanto viamos os trapezistas. Nesse dia percebi que a persistência é crucial na criatividade porque ele desistiu imediatamente.
O João tinha um irmão com o meu nome: o Manel Pinheiro. Tratava-o muito mal. Eu não percebia porquê mas um dia em Andorra numas férias de Neve lembro-me de chorar secretamente enquanto o Manel gritava e chorava para o João e lhe perguntava porque é que não gostava dele. A música veio mais tarde resolver essa questão.
Para além destas memórias que ainda guardo do João falta falar das “bocas irónicas” e desagradaveis que mandava quando fomos para a escola preparatória, da bateria que ele aprendeu a tocar com o pai dele, das bandas, do bar Rookie onde eu nunca fui, da Pingas que se apaixonou por ele depois de uma jogo de “bate pé” quando eu gostava secretamente dela. Finalmente o João foi para letras e eu para ciências. Perdi o contacto. Só o via de quando em quando no liceu. Nunca falamos de nada. Nos anos de faculdade voltamos a falar uns bocados nas férias que passamos perto da Tavira com as nossas famílias. Nunca aconteceu nenhum tipo de partilha ou simpatia até ao dia de ontem em que conversamos sobre os nossos percursos e ele me confessou que é a personificação de Portugal e dos seus medos e problemas. Tirou filosofia. Quer dedicar-se á música. Escreve trabalhos académicos com facilidade mas tem vergonha da escrita criativa:
- Português é uma língua mais adequada à poesia do que à filosfia… - diz ele tom de desculpa apesar de ter um certo fundo de verdade. Atirei-lhe uns títulos de um livros desses que viveram comigo. Livros que amei e amo. Livros que se degradam quando se abrem. A leitura da filosofia e da poesia destroi o livro que a contem. Falamos do Francisco. Esse sim foi morto pelo absurdo absoluto. Fica assim o registo de mais um morto-vivo que me falou da morte.
Há coisa que somos antes de sabermos que somos. No meu caso isso tem a ver com tinta, tela, madeira, metal, papel, cor, composição, cartão, esferovite, plástico, significados inerentes à existência de um objecto e a sua recontextualização. O usofruto de uma instalação é sempre do seu observador mas o uso que se faz de cada existência como se de uma palavra se tratasse é um prazer restrito a umas elites que acreditam em coisas e coisismos densos demais para flutuar nos canais de Veneza que acabei por não ir revisitar. Precisava de sentir-me perto de alguns mortos. Precisava de cortar a raiz à saudade.
Há horas para tudo
Sem medo eu digo a mim mesmo que não é preciso precipitar nada na vida. POrque há um tempo próprio para tudo o que se sucede na nossa vida, até porque há uma certa necessidade de sucessão dos eventos que geramos. Ultimamente tem sido mais natural escrever. Tem sido fácil parar e esperar que a fotografia, o desenho, a pintura e a escultura se restabeleçam aguardando deitados pela força dos signos. A inacção tem criado potencial criador. O descanso do guerreiro foi merecido mas agora é hora de teorizar e de registar com letras as desventuras do início das minhas férias.
Cada vez mais se torna urgente escrever um tributo aos mortos vivos. Estes mortos não estão longe de viver para si mesmos mas viveram durante demasiado tempo longe de mim para que os sinta vivos ou sequer para saber que respiram.
Há listas intermináveis de amigos que se embrulharam na distância própria do tempo e não do espaço. São pessoas das quais não adiantava mencionar apenas os nomes. São profundas e deixaram-se ficar nas profundezas. Umas mais obcuras, outras mais ternas. Todas as pessoas que amam uma vida distante da minha estão indelevelmente mortas-vivas.
Sempre pensei que iria começar a escrever sobre esta sensação de morte numa hora mais propícia. Como eu adoro a noite, e o silêncio que se gera enquanto “os estúpidos dormem”, sempre sonhei como uma prefusão de frases a fluir no teclado entre as 2 e as 3 da manhã. Prolongando-se num exercício de estilo muito parecido com um cigarro vejo as palavras aglomerarem-se imageticamente assim… um ladrilhar lento de prazer para quando não se consegue comer… nem pintar… nem dormir… nem amar… nem… arder na nossa fornalha de combustão interna. Vejo as palavras como o silêncio de quem pensa. Não as consigo sentir como próprias. Sempre pensei que ao contrário das coisas que abraço e toco com paixão a escrita acaba por ser como a música - uma gramática que se aprende. Um signo que outros criaram e e refinaram juntamente com um significado que para mim funciona como um peso frustrante.
Apesar de todo este esforço extra chegou a hora de tentar arder silenciosamente desta maneira. Não chega entregar aos outros os sons que nos ensinaram. Nem abrir as portadas do que é forte em nós para que o mundo veja. Porque as horas madrugadoras da manhã em que comecei a escrever me lembram coisas simples. Escrever é um anacronismo para mim. Preciso de o abraçar como uma necessidade. Apesar desta falta de estilo, deste pudor em olhar cada letra como uma coisa que me obrigaram a usar na escola eu acredito que posso ultrapassar várias limitações minha com este exercício semi-criativo.
Cada vez mais se torna urgente escrever um tributo aos mortos vivos. Estes mortos não estão longe de viver para si mesmos mas viveram durante demasiado tempo longe de mim para que os sinta vivos ou sequer para saber que respiram.
Há listas intermináveis de amigos que se embrulharam na distância própria do tempo e não do espaço. São pessoas das quais não adiantava mencionar apenas os nomes. São profundas e deixaram-se ficar nas profundezas. Umas mais obcuras, outras mais ternas. Todas as pessoas que amam uma vida distante da minha estão indelevelmente mortas-vivas.
Sempre pensei que iria começar a escrever sobre esta sensação de morte numa hora mais propícia. Como eu adoro a noite, e o silêncio que se gera enquanto “os estúpidos dormem”, sempre sonhei como uma prefusão de frases a fluir no teclado entre as 2 e as 3 da manhã. Prolongando-se num exercício de estilo muito parecido com um cigarro vejo as palavras aglomerarem-se imageticamente assim… um ladrilhar lento de prazer para quando não se consegue comer… nem pintar… nem dormir… nem amar… nem… arder na nossa fornalha de combustão interna. Vejo as palavras como o silêncio de quem pensa. Não as consigo sentir como próprias. Sempre pensei que ao contrário das coisas que abraço e toco com paixão a escrita acaba por ser como a música - uma gramática que se aprende. Um signo que outros criaram e e refinaram juntamente com um significado que para mim funciona como um peso frustrante.
Apesar de todo este esforço extra chegou a hora de tentar arder silenciosamente desta maneira. Não chega entregar aos outros os sons que nos ensinaram. Nem abrir as portadas do que é forte em nós para que o mundo veja. Porque as horas madrugadoras da manhã em que comecei a escrever me lembram coisas simples. Escrever é um anacronismo para mim. Preciso de o abraçar como uma necessidade. Apesar desta falta de estilo, deste pudor em olhar cada letra como uma coisa que me obrigaram a usar na escola eu acredito que posso ultrapassar várias limitações minha com este exercício semi-criativo.
7.11.2005
Esperanto
Hoje dia11 de Julho de 2005 aprendi as minhas primeiras palavras de esperanto. Espero que a prendizagem seja tão fácil como dizem porque se as qualidades desta língua se confirmarem dentro em breve vou começar assinar revistas, ler uns livritos e quem sabe ir a uns encontros de esperantistas. Quando acredito numa ideia eu abraço as coisas e não espero. A minha irmã é que me chamou para este desafio e estamos os dois agora a começar. Gosto da ideia de uma língua sem excepções. Numa língua sem vícios. Sem país. Acredito na ideia de igualdade e por isso gosto da ideia de esperanto. Mesmo quando o inglês se torna tão fluido como o Português e quando os amigos estão tanto de um lado como do outro do canal... sou forçado a acreditar numa língua acima de impérios e de ambições. Fico satisfeito com a ideia de haver uma língua de quem acredita em ideais mais do que em países.
www.lernu.net
Toda a informação necessária para aprender está lá e é só o que eu vou usar. Espero que chegue. Depois fica a faltar o Italiano e o Espanhol mas isso vai mesmo ter de esperar.
www.lernu.net
Toda a informação necessária para aprender está lá e é só o que eu vou usar. Espero que chegue. Depois fica a faltar o Italiano e o Espanhol mas isso vai mesmo ter de esperar.
7.09.2005
I love facts and intuition...
I love everyone around me. I love randomness. I love the fact that every detail is crucial. I love My lost friends. I love dead people. Hooo... my beliefs are so easy to beat. The beat, the beat... Dead poets’ society and the beat generation. A thousand miles are just a kiss in the poetic reality of love. I can hear you saying these words to me even when I'm drunk my love. I'm coming home like I'm supposed to do. I love being in love with the impossible love I feel for You girl. Nothing is as strong as the things I remember of you. A guitar is talking to me and saying that everything is like the sun shine. Just because I'm not afraid to say I love you. I Know you are just a girl that is trying to learn how to love but nothing is as easy as coming home again. I'll kiss no matter what. When I'm drunk I say "In Venus Veritas" with loss of spelling errors. Just because I'm intuitive. Just because I love those girls that love me and my ethics overcomes the fact that I'm away. I love you words of the lost women. I love you woman. I love the idea of what you are. I'm trying to fight against the spell you've put on me. I love your memories but I can't agree with what you are. Don't be afraid and I hear me saying that I know one day you'll love me. The fact is that tomorrow you'll know I'm unpredictable. Love me as I am. Kiss before I believe in you and then show me how easily you can forget me. This is the way I learned How to love. You Know you are sweet little love maker. Foxy lady tell me the truth and forget the fact that I'm all right. Forget me but love me for ever and ever. Never believe in god just because your need it. Foxy lady believe in yourself and in the fact that I love you. Your skin sounds like love in pure silk. Nothing resembles the quarks and the sentence I used to say to you:
-Foxy lady: I'll never forget you.
-Foxy lady: I'll never forget you.
7.08.2005
7.06.2005
No pictures, no photos, no images...
My world changed slightly and for now I don't feel like posting anything that can give you an inside view on what I've been living or feeling. I'm writing a little bit but I don't feel like posting anything in English and most of those things I've been writing will remain private. The events are always painful if you show them to the world. For the time being I feel like keeping these texts and drawings to myself. Maybe I won't even keep a record. I'm always a shadow of myself and I'm halfway through the mirror.
Parece que nada acontece...
Mas acontece tanta coisa ultimamente... Deixei de viver como vivia. Não tenho mais tempo para falar do que vivo (mas hoje tentei fazer uma esforço). Preciso de encontrar dias de reencontros para ultrapassar estes desencontros. Tenho pequenas, grandes angústias e acontecimentos que me fazerm feliz de todas as dimensões. O problema é apenas encontrar aqueles que preciso de ver e que não vejo. O problema é sentir que estou em casa e não pensar em partir. Escrever um livro de tributos aos mortos que conheci, como pinto uma tela e portanto, sem pensar em mais nada a não ser no que sinto. Pagar com ideias e sofrimento o peso de um amor impossível e de uma grande amizade limitada pelos valores em que acredito. Paga esse teu desejo com a tortura de partir sem saber se sais ou chegas a casa. Paga todo o prazer e cada oportunidade que te dão com a sensação de que o sentimento é areia que se escapa por entre os dedos de quem tenta agarrar a vida. Congratula-te com as amizades fortes que tens independentemente de teres tempo para ver essa malta que conta tanto na tua forma de estar. Aceita o facto de que nem sempre a angústia nos faz mal, porque normalmente nos ensina mais sobre o que queremos viver do que qualquer livro que andas a ler. Carrega-te para o outro lado do espelho...
7.02.2005
Alergo - um textinho foleiro
De onde vêm os impulsos? As chamas que me consomem não ardem só em mim. Ardem ao lado, à frente e atrás... O passado que me fez assim comeu-me o silêncio e deu-me asas para aguentar o ruido todo que a morte faz por esse mundo. Ao lado vejo ardores de amigos que desejam mas não podem desejar. Sem corpo para aguentar o sonho. Estes animais também os tentam magoar mas não consigo dar-lhes atenção.
As minhas questões perdem-se num passado simples. As dúvidas são as sombras que já só assombram os outros. Hoje sou livre de mim e já nada me faz parar. Só mesmo a dor física destes dedos a escrever ou as costas doridas de noites em frente ao cavalete ou à secretária. Porque é ali que atiro o que tenho dentro de mim para os outros e para o mundo. Mas sem pensar muito nisso sei e sinto que preciso de me deitar com mais livros e de encontrar mais mulheres. Admito esta minha face desprendida da mulher idealizada que já viveu dentro de mim. E toda esta minha libertação começou no Bairro alto. Como quem sobe ali pela rua da Atalaia encontro um bar calmo para me tirar o pôr do sol da frente dos olhos. E começam a arder as nuvens sem que ninguém note. Só eu que estou num buraco escuro, um metro a baixo do nivel da rua, sei que as nuvens ardem em dor. Sinto o silêncio que comemora a vitória sobre a voz que acarinha Lisboa. Mas nada. Ninguém ouve este silêncio de um amigo que não chega.
Perdido na dúvida do que gostaria de ser um dia eu decidi viver. E hoje não sei se escrevo isto vivo ou morto. Talvez um dia quem lê me possa escrever e dizer se respiro ou se já morri.
Para escrevermos sobre estas forças que nos consomem é preciso mergulhar para o tempo dos dinossauros... idealmente ir um bocadinho mais atrás... vamos fazer de nós um simples positrão. Surgimos naquilo a que chamam anti-universo e vemos o nosso espelho negativo a afastar-se de nós. Com spin qualquer estranho e que ainda poucos podem explicar apreciamos a natureza do mundo vazio que nos envolve e sentimos todas as particulas a afastar-se de nós.Sentimos a única pergunta que nunca vai ter hipótese dentro do saco das grandes. A pergunta das origens. E sem ordem... Sem planos... fazemos arder palavras como toros de lenha sobre uma tela que vai absorvendo as marcas de uma noite que acontece sempre à volta da fogueira que aquece palavras e sorrisos. Comemoramos a vida sem dizer nada a ninguém porque ainda poucos são os que sabem que ela vai acontecer. A vida arde como a energia que me afastou do meu irmão gémeo. Somos as feras do final do Zaratustra. Somos a águia e o Leão que lutam sem lutar. Que rodam com a terra sem saber muito bem disso. Por mais que corram ou voem as feras... sem sequer sonharem com isso... orbitam as musicas e sons primordiais. Numa radiação de fundo que amarra tudo à origem e que chama os atentos para a pergunta. Sem noção do que disse antes começam a escorrer gotas de sangue. E a tinta ganha uma nova força. O toque é quente e a dúvida volta a tocar neste texto que não tem pretenções a participar. E como a maior parte destes portugueses com medo de existir a dor começa a fazer-se sentir sem drama, numa frase que me disse que a desgraça era a vida durante anos e na ausência de espaço para respirar. O fado nao é angústia é simplesmente a certeza que Portugal vai estar semrpe em crise... nem Erikson poderia ententer este eterno processo de autoflagelação de um povo que me pariu para este mundo. E correm-me os genes deles no sangue. Amo-os. Sou como eles mas não me aceito como sou. Primeiro aprendi a fazer perguntas, depois aprendi a ler, o meio fisico, a matemática... e vi-me obrigado a gritar revolta para sobreviver neste mundo cinzento que quase me matou. Não havia pôr do sol que me aquecesse porque já fugia dele. E hoje a angústia está toda nas telas que pari. Nos esculturas a que dei corpo. E ficaram por acontecer tantas figuras pixeladas de jogos de computador feitos de pedras de calçada preta e branca. Onde está o Larry? O que é isto do revivalismo se não uma grande saudade que se espalha pelo mundo e arde como as ideias que estão atrás de mim e me dão a mão. Não segurem forte... porque se não ainda caio para trás. Gente da minha terra não tentem perceber a tristeza que trazem porque ela foi oferecida por mim como um brinde dos cereais. Veio para o mundo todo mas só vocês a abraçaram como um pedacinho de céu cinzento que já não vêem há tanto tempo. Não há vozes cristalinas nem Marizas ou maresias que apaguem esta vela foleira que arde no peito de cada português. O no fundo o que é que conseguimos com isso? Conseguimos ser todos electrões em portugal... cheios de sonhos negativos que nunca acontecem... impossíveis de sentir num todo porque o Heisenberg não esteva lá só para alguns com os princípios mais básicos do conhecimento. Porque o mais importante é saber aceitar o que não vamos conhecer, mesmo dentro destas paixões todas que nos exaltam as almas ardem ainda mais intensamente. Somos todos xamãs... Somos todos artistas e poetas mas onde é que estão os desenhos que vocês fazem ao telefone? Sim onde é que estão os textos que gravam os vossos sonhos. Não sejam apenas leões. Chega de queixas. É hora de esquecer o nevoeiro. E se ele vier temos de abraçar a humidade e não usar os olhos para nos orientarmos.
É hora de partir para os confins do universo como todas as partículas que surgiram naquele possível momento. Porque toda a gente julga que está parada. Ninguém vê o fractal das suas opções. Ninguém se pode alimentar de mitos eternamente. Temos de crescer para deuses e não acreditar numa coisa superior escrita e passada que só a penitência Judaico-cristã pode garantir.
Sem medo. Sem dor. Sem nada do que é nosso, parti e cheguei a outra ilha onde as pessoas fazem tudo ao contrário. Ofereceram-se para explorar todo o meu potencial mas eu recusei e esqueci-me disso. Só queria poder existir num mundo sem alergia, sem espirros, sem muco, sem saudade, sem nevoeiro, nem desejos de ser Europeu. Porque é que não abraçamos os cantinhos mágicos da nossa imaginação para semear no mundo?
E despejando, sem dúvidas, deixamo-nos assaltar por elas. E na esperança que um dia cada palavra seja muito mais do que um sonho, o ardor de uns olhos que já se podem fechar sem medo, enquanto escrevem os desejos de ser, consomem-me como um compositor que ao piano se pode dar ao luxo de não olhar, de fechar os olhos em dor e de arder por dentro como uma fogueira que ficou apagada e esquecida na manhã seguinte. Estou sempre a partir. Sempre a chegar a casa. Sempre a encontrar mais casas dentro de mim. A aprender a amar outros como pais e amigos como eternos companheiros de aventuras perigosas e apaixonantes. Mas no meio de tanta foleirada, de tanto barroco e de tanta poetico-pastorícia eu ardo sempre calmo, ciente de que o humor ainda não me assaltou como eu gostava. Uma piada que ainda não abraçou as palavras como abraçou as minhas aguarelas. Na esperança de que um dia na televisão nos venham dizer o que temos de fazer para salvar o país deixamos de sentir a certeza de que temos de mudar para deixar outros brilhar. E os tectos curvos das abóbadas da vida sucedem-se em aglomerados a que depois se chamaram estrelas.... E anti-estrelas... E estas foram tão boas para elas mesmas. Arderam tão bem dentro de si próprias que não percebo como é que os planetas se podem sentir bem só por absorver calor e radiação. Nós planetas somos mesmo manhosos. Não temos mais do que um núcleo quente.
As minhas questões perdem-se num passado simples. As dúvidas são as sombras que já só assombram os outros. Hoje sou livre de mim e já nada me faz parar. Só mesmo a dor física destes dedos a escrever ou as costas doridas de noites em frente ao cavalete ou à secretária. Porque é ali que atiro o que tenho dentro de mim para os outros e para o mundo. Mas sem pensar muito nisso sei e sinto que preciso de me deitar com mais livros e de encontrar mais mulheres. Admito esta minha face desprendida da mulher idealizada que já viveu dentro de mim. E toda esta minha libertação começou no Bairro alto. Como quem sobe ali pela rua da Atalaia encontro um bar calmo para me tirar o pôr do sol da frente dos olhos. E começam a arder as nuvens sem que ninguém note. Só eu que estou num buraco escuro, um metro a baixo do nivel da rua, sei que as nuvens ardem em dor. Sinto o silêncio que comemora a vitória sobre a voz que acarinha Lisboa. Mas nada. Ninguém ouve este silêncio de um amigo que não chega.
Perdido na dúvida do que gostaria de ser um dia eu decidi viver. E hoje não sei se escrevo isto vivo ou morto. Talvez um dia quem lê me possa escrever e dizer se respiro ou se já morri.
Para escrevermos sobre estas forças que nos consomem é preciso mergulhar para o tempo dos dinossauros... idealmente ir um bocadinho mais atrás... vamos fazer de nós um simples positrão. Surgimos naquilo a que chamam anti-universo e vemos o nosso espelho negativo a afastar-se de nós. Com spin qualquer estranho e que ainda poucos podem explicar apreciamos a natureza do mundo vazio que nos envolve e sentimos todas as particulas a afastar-se de nós.Sentimos a única pergunta que nunca vai ter hipótese dentro do saco das grandes. A pergunta das origens. E sem ordem... Sem planos... fazemos arder palavras como toros de lenha sobre uma tela que vai absorvendo as marcas de uma noite que acontece sempre à volta da fogueira que aquece palavras e sorrisos. Comemoramos a vida sem dizer nada a ninguém porque ainda poucos são os que sabem que ela vai acontecer. A vida arde como a energia que me afastou do meu irmão gémeo. Somos as feras do final do Zaratustra. Somos a águia e o Leão que lutam sem lutar. Que rodam com a terra sem saber muito bem disso. Por mais que corram ou voem as feras... sem sequer sonharem com isso... orbitam as musicas e sons primordiais. Numa radiação de fundo que amarra tudo à origem e que chama os atentos para a pergunta. Sem noção do que disse antes começam a escorrer gotas de sangue. E a tinta ganha uma nova força. O toque é quente e a dúvida volta a tocar neste texto que não tem pretenções a participar. E como a maior parte destes portugueses com medo de existir a dor começa a fazer-se sentir sem drama, numa frase que me disse que a desgraça era a vida durante anos e na ausência de espaço para respirar. O fado nao é angústia é simplesmente a certeza que Portugal vai estar semrpe em crise... nem Erikson poderia ententer este eterno processo de autoflagelação de um povo que me pariu para este mundo. E correm-me os genes deles no sangue. Amo-os. Sou como eles mas não me aceito como sou. Primeiro aprendi a fazer perguntas, depois aprendi a ler, o meio fisico, a matemática... e vi-me obrigado a gritar revolta para sobreviver neste mundo cinzento que quase me matou. Não havia pôr do sol que me aquecesse porque já fugia dele. E hoje a angústia está toda nas telas que pari. Nos esculturas a que dei corpo. E ficaram por acontecer tantas figuras pixeladas de jogos de computador feitos de pedras de calçada preta e branca. Onde está o Larry? O que é isto do revivalismo se não uma grande saudade que se espalha pelo mundo e arde como as ideias que estão atrás de mim e me dão a mão. Não segurem forte... porque se não ainda caio para trás. Gente da minha terra não tentem perceber a tristeza que trazem porque ela foi oferecida por mim como um brinde dos cereais. Veio para o mundo todo mas só vocês a abraçaram como um pedacinho de céu cinzento que já não vêem há tanto tempo. Não há vozes cristalinas nem Marizas ou maresias que apaguem esta vela foleira que arde no peito de cada português. O no fundo o que é que conseguimos com isso? Conseguimos ser todos electrões em portugal... cheios de sonhos negativos que nunca acontecem... impossíveis de sentir num todo porque o Heisenberg não esteva lá só para alguns com os princípios mais básicos do conhecimento. Porque o mais importante é saber aceitar o que não vamos conhecer, mesmo dentro destas paixões todas que nos exaltam as almas ardem ainda mais intensamente. Somos todos xamãs... Somos todos artistas e poetas mas onde é que estão os desenhos que vocês fazem ao telefone? Sim onde é que estão os textos que gravam os vossos sonhos. Não sejam apenas leões. Chega de queixas. É hora de esquecer o nevoeiro. E se ele vier temos de abraçar a humidade e não usar os olhos para nos orientarmos.
É hora de partir para os confins do universo como todas as partículas que surgiram naquele possível momento. Porque toda a gente julga que está parada. Ninguém vê o fractal das suas opções. Ninguém se pode alimentar de mitos eternamente. Temos de crescer para deuses e não acreditar numa coisa superior escrita e passada que só a penitência Judaico-cristã pode garantir.
Sem medo. Sem dor. Sem nada do que é nosso, parti e cheguei a outra ilha onde as pessoas fazem tudo ao contrário. Ofereceram-se para explorar todo o meu potencial mas eu recusei e esqueci-me disso. Só queria poder existir num mundo sem alergia, sem espirros, sem muco, sem saudade, sem nevoeiro, nem desejos de ser Europeu. Porque é que não abraçamos os cantinhos mágicos da nossa imaginação para semear no mundo?
E despejando, sem dúvidas, deixamo-nos assaltar por elas. E na esperança que um dia cada palavra seja muito mais do que um sonho, o ardor de uns olhos que já se podem fechar sem medo, enquanto escrevem os desejos de ser, consomem-me como um compositor que ao piano se pode dar ao luxo de não olhar, de fechar os olhos em dor e de arder por dentro como uma fogueira que ficou apagada e esquecida na manhã seguinte. Estou sempre a partir. Sempre a chegar a casa. Sempre a encontrar mais casas dentro de mim. A aprender a amar outros como pais e amigos como eternos companheiros de aventuras perigosas e apaixonantes. Mas no meio de tanta foleirada, de tanto barroco e de tanta poetico-pastorícia eu ardo sempre calmo, ciente de que o humor ainda não me assaltou como eu gostava. Uma piada que ainda não abraçou as palavras como abraçou as minhas aguarelas. Na esperança de que um dia na televisão nos venham dizer o que temos de fazer para salvar o país deixamos de sentir a certeza de que temos de mudar para deixar outros brilhar. E os tectos curvos das abóbadas da vida sucedem-se em aglomerados a que depois se chamaram estrelas.... E anti-estrelas... E estas foram tão boas para elas mesmas. Arderam tão bem dentro de si próprias que não percebo como é que os planetas se podem sentir bem só por absorver calor e radiação. Nós planetas somos mesmo manhosos. Não temos mais do que um núcleo quente.
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