3.23.2005

O stress da partida

Tenho de ir porque já estou em contrarelógio para a minha partida... ou o meu regresso... já nada é facil nem sequer partir ou voltar. Todas as pessoas que gostam de mim querem que faça parte do mundo delas. Perguntam-me se não vou ficar. Mas eu não sei onde é que estou. Passeio por cidades de gente perdida. Nenhuma delas pergunta onde está. Encontro almas e falo com espaços. Faço amigos que me levam para os caminhos que não consigo fazer sozinho. Encontro fotografias de memórias e de projectos futuros. Chamam-me notas escritas que marcam histórias.

Por Londres ou por esta cidade fantasma encontro sonhos que consigo tocar. Dizem-me que dinheiro não será um problema... nem sequer me dão uma data limite para fazer um quadro enorme apenas porque querem o meu melhor. Dizem-me que me podem pôr em contacto com uma galeria em Birmingham. Querem mais projectos. Mais ideias. Mais fluência transcendente transferida para o mundo dos mortais. A minha cabeça explode de coisas boas e vontades mas o tempo encurta mais e mais. Fico esborrachado nesta vida que se limita a uma soma de momentos. Esquecem-se amigos daqueles que pensavamos que iam estar lá para sempre. O que pensamos mostra-se efémero e a metafísica perde a sua eternidade. Os neurónios retorcem-se à procura de novas ligações. Mapas mentais ajudam a encontrar pontes. Problemas e mais problemas que encontram soluções intuitivas em prendas de silêncios. Emprestam-me a minha grande lacuna: o Silêncio de Cage. Navego. Parto. Parti? O quê ou de onde?
A palavra que agora melhor me descreve é: PArtir.
O cd que me ofereceram alimenta-me a intuição menos obvia do processo criativo. Esforço-me por manter o nível. Mas estou sempre a descambar para o racional. E quando quero ser racional perco-me pelo que não faz sentido para todos.

Queria tanto tirar fotografiad de uma autopsia e a touradas e largadas. Mas queria violência toda a brutalidade possível numa superfície... Máxima é a imagem que magoa tanto que faz sangue.

Tenho de arrumar este quarto onde já não se consegue andar.

Vai Manel parte dessa cadeira e vai acabar projectos. Mas eu não sei acabar projectos. Só os sei começar. Será que as coisas têm fim? Fim como objectivo ou fim como termino? Porque um é o oposto do outro. Eu ainda queria muito poder largar tudo o que sou no mundo para que as pessoas ficassem com tudo o que sou. Não preciso de nada do que sou se as pessoas ficarem comigo. Mas não... elas partem para longe de mim a toda a hora. Elas partem-me. É a logica Dantesca das almas que fluem numa termodinâmica infernal. Lembram-se do email em que explicam tudo em detalhe? Será que estou num sistema fechado ou isolado? Vou fugir mais uma vez do que sou. Só no verão é que espero encontrar a calma que me vai deixar dizer: sou eu aqui.

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