Quando as trevas do sono me atormentam eu mergulho pelas palavras imaginadas de um ardor estranho que é continuo e diverso como o mundo que percorro. Raspam-se as pessoas e rapam-se os tachos da minha avózinha querida que cozinha bolos e nos delicia com o prazer da quimica dos polimeros e das misturas homogéneas. Isto tudo porque o tempo está mau em Londres. Não há permissão para aterrar. Não podemos levantar. Neste sitio estéril sou forçado a tentar perceber porque é que quero e porque é que não quero partir. Ouço guitarras do Paredes e não se manifestam as necessidades de um ser nómada. O insconciente toma o comando de uma linha de não pensamento que me atormenta e umas teclas que me ajudam a viver numa cultura de pubs velhos e humor irónico. Sobre este tesouro que temos em portugal só consigo pensar no conto do Eça. Os irmãos matam-se numa apatia negativa de saudade e tristeza. Neste prelúdio de indiferença.assumo que isto só me enche quando a poesia se tenta arranhar e coçar com o que não pode ser dito. Não há pensador que me valha. Não há poeta que diga o que tenho hoje para dizer. Quero ser bom para os que amo. Quero que sintam o que sinto e é por isso que preciso de fazer de alguma maneira.
O som saudoso entrou e arrepia-me de uma forma meditativa que me faz rir. Sorrindo e olhando o tejo do meu querido jardim das oliveiras, encontro amores que continuo a não poder aceitar. Perco-me no pecadoe e no que não posso ser. Esqueço o beijo que não posso dar e e tento bloquear um desejo incontido de ser o que não quero ser. Surpreendo-me e invento-me de uma maneira agressiva e fico às vezes com medo do que que inesperadamente me tornei. Não há medo hoje. Só desejos impossiveis e sonhos para onde caminho com força, determinação e realismo.
Consciente dos sacrificios arreganho o dente e começo a contar o que me preocupa aos outros. Anda-me o coração num estranho sentimento de inutilidade. Quero correr comigo.