"O menino da árvore deitada" recebeu um email hoje que falava do seu avô Jorge:
senti uma necessidade imensa de escrever sobre ele. Senti uma distância enorme e uma vontade ainda maior de voltar só durante um ou dois dias para ter a certeza que ele está bem. Só para lhe poder dar a certeza que nada do que ele fez e disse foi em vão. Sim ele deixou uma legado a todos os que os conhecem: a vida dele. Porque o meu avô me inspirou a voar de asa delta azul e a planar sobre Porto salvo. A andar de "windsurfer", a fazer teleféricos... Gravou em mim os momentos de uma pescaria na ponte do Barril que nunca vai acabar. Uma pescaria com um charroco que ainda saltava numa panela de água a ferver e alguns 10 sargos... Que boa caldeirada e que fabulosa tarde a aprender tudo sobre marés. Uma tarde passada com os óculos e o respirador a ver cardumes no fundo do mar.
Um avô que me acordou para a importância de amar sempre e a cima de tudo o resto. O Jorginho esteve de cama e só espero que já esteja bem. Ontem teve um artigo no expresso sobre ele, onde publicaram a fotografia da casa que ele projectou para ser feliz. A casa mãe do clã Viana. A casa onde ele fez foguetões comigo. Onde a ideia de Deus foi muitas vezes abordada. Onde as manias e os hábitos se combatiam com um bocadinho de salada no prato de cada vez. Onde uma tarde em que ele se sentava a ouvir as outras pessoas falar podia fazer o silêncio falar no meio da "barulheira". Uma casa onde ele nos hipnotizou com o seu traço, as suas aguarelas e os seu pasteis. Um avô teimoso que pensa e sente de forma profunda e a cima de tudo com um sentido estético vivido em cada acção.
Não sei como é que o posso admirar tanto sendo eu tão arrogante. Talvez seja isso mesmo: o remédio para a minha arrogância é a humildade dele apesar da vida extraordinária que vai vivendo. Quando se está longe de vez em quando sente-se uma grande falta do jornal que ele traz aos fins de semana e da forma cantada como chama alguém... O meu avô aparecia sempre na televisão a cantar no Natal mas os momentos em que cantava melhor era quando nos queria adormecer e lhe pediamos para cantar o General PUM PUM! Esses eram grandes momentos... Seguidos de um ritual para o sono em que ele andava para a frente e para trás no nosso quarto como se nos estivesse a guardar activamente. Aqueles passos tinham um rimo de coração muito suave que nos levava e cair que nem pedras numa almofada branca.
Só escrevi o que me vinha à cabeça e só posso dizer que ele merece tudo o que há de bom. Toma conta de ti avô porque ainda te quero dar muitas alegrias.
Daqui a uns tempos vou escrever-vos sobre a minha avó... vai ser bom poder escrever estas coisas que me fazem bem e dá-las ao mundo.
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