Rachmaninov é desde há muito tempo um dos meus compositores de eleição. No Início deste concerto sinto as saudades dos momentos de beleza pura que tive na minha vida. Sinto as memórias de um amor intenso a passarem-me pelos olhos. Sem qualquer explicação apaixono-me novamente por todas as raparigas que já amei quando ouço este piano gritar que ama. Revejo vários momentos do "Cinema Paradiso". Das raparigas que já amei salto para o meu passado e sinto um enorme fascínio por ter vivido tudo o que já vivi sem ter morrido. Fico apaixonado pelo passado do mundo. Vejo uma lua como já tinha visto com o meu avô no telescópio dele. Vejo as imagens do meu microscópio do "puto contra-ataca". A água do jardim, a abelha e as moscas que matava. Sinto coisas boas mas intensas demais para estarem a ser vividas hoje. Amo sem amar e sinto uma felicidade estranha por isso. Uma felicidade que dá num sorriso tão estranho que internamente parece quase tristeza: por fora acho que é sempre irónico. Explodem as intensidades e esta loucura do Rachmaninov torna-se intensa demais para sobreviver ao tempo. empo. em pó... Sinto o voar de um moscardo à volta dos meus ouvidos e uma calma a assaltar-me outra vez. Rachmaninov é um visionário. A música dele é contemporânea de conteúdo... No final sinto o Amstrong a acabar de tocar o "What a wondeful World" e sonho com uma tarde de sol, com a praia e o rio... e esqueço, para não sofrer, os olhares que já troquei com o mundo.
in C Minor,Op.18 (No.4 Moderato)
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