7.10.2008

O Projecto

PROJECTO - BASE CURVA
Associação Cultural sem fins lucrativos

www.basecurva.blogspot.com


1. Introdução

BASE CURVA é um grupo de artistas que constituem uma associação cultural sem fins lucrativos. Temos como principal objectivo o desenvolvimento de uma plataforma pluridisciplinar na área das Belas-Artes. Pretendemos projectar e implementar actividades culturais, produzir e difundir eventos que enfoquem a arte, promover exposições, conferências, concursos, open studios e residências artísticas.
Iremos estimular e promover a capacidade criativa, crítica e produtiva dos artistas, procurando oferecer condições materiais (espaço físico) e partilha de experiências e conhecimento.

Informar a população é outro dos nossos objectivos. Assim pretendemos estimular os artistas bem como os seus públicos.

A espontaneidade com que se formou esta associação constituída por artistas de origens diversas demonstra a necessidade de um activismo na defesa da classe criativa. A formação deste grupo demonstra também a nossa determinação para traçar caminhos que procurem investigar o sentido da arte e da cultura enquanto bases estruturantes da sociedade.



2. Objectivos

· Espaço comum numa comunidade de trabalho:
· Espaço de trabalho (ateliers)
· Apresentação e crítica de práticas artísticas
· Discussão e crítica de exposições
· Performances
· Programação na área das Artes Visuais e performativas

· Partilha de experiência e conhecimento:
· Formações pontuais
· Conferências pluridisciplinares
· Open studios
· Catálogos
· Publicações online
· Eventualmente uma revista de arte contemporânea

· Metas socioculturais:
· Criação de públicos e dinamização da cidade
· Exposições e performances de rua
· Exposições simultâneas em espaços alternativos
· Projectos baseados nos recursos e materiais locais
· Conservação do interior dos edifícios utilizados[1]
· Protecção dos espaços cedidos

· Espaço expositivo gerido por artistas:
· Concursos
· Exposições de artistas convidados
· Exposições de associados
· Receptividade a projectos exteriores pertinentes
· Colaboração com outras entidades e artistas

· Parcerias com organizações nacionais e internacionais:
· Associação EMA (mediadores culturais da Culturgest)
· Entidades com funções semelhantes à BASE CURVA no estrangeiro com quem iremos estabelecer procolos e organizar Residências artísticas


3. Caracterização

Como diz José Gil, um pensador contemporâneo incontornável, a inexistência de espaço público em Portugal é uma constatação imediata. Para além de todas as implicações que isso tem em todas as outras áreas, este autor refere-se a essa ausência na arte da seguinte forma:

Os pintores, os escultores raramente falam entre si sobre a sua arte. A arte é uma questão privada. Não entra na vida, não transforma as existências individuais. Expõe-se em vitrinas (como durante anos as exposições, espectáculos, concertos de artistas estrangeiros se produziam nas «montras» da Gulbenkian, que apresentavam o que se fazia «lá fora» na época da ditadura.

José Gil, O Medo de Existir

Aquilo a que nos propomos é contrariar esta tendência criando espaço e oportunidades para que os artistas troquem críticas e opiniões e se interajudem na transformação do seu público. Para que isto aconteça é essencial que o estúdio deixe de ser puramente privado. Que as redomas frequentemente asfixiantes deixem de ter razão de existir e a obra do artista tenha a oportunidade de se inscrever, ou seja, passe a ser criticada por outros artistas, críticos, comissários, pensadores e principalmente novos públicos.


3.1. Estúdios

O estúdio deve ser um espaço que não sufoque economicamente os artistas. É fundamental que seja um ponto de encontro em que a rotina não é solitária mas sim uma intensa troca de informação, organização de eventos abertos ao público como open studios, conferências e performances. O que é essencial neste espaço é que não seja de todo mais uma escola mas uma oportunidade de contacto entre profissionais das Belas-Artes formados em diversas instituições. Isto significa que, sem pôr em causa a independência total de cada um dos artistas que usam os estúdios, se pretende fomentar a noção de plataforma pluridisciplinar de trabalho.

Podemos acrescentar que este espaço [o estúdio] é determinante na concretização de projectos e ideias tanto a nível artístico e individual assim como colectiva e socialmente.

Daniel Buren, The Function of the Studio


Estes ateliers devem ter características específicas que possibilitem atingir os objectivos a que nos propomos e não limitem o trabalho que neles é criado. Isto implica que se encontrem numa zona movimentada e central, perto de transportes públicos e que sejam constituídos por salas múltiplas de pé direito elevado. É importante que pelo menos 20 artistas possam trabalhar independentemente e que exista também uma sala comum. O edifício que acreditamos reunir estas características sitas na rua de Lázaro nº94 onde já se encontra a associação ILGA no R/C e por coincidência o estúdio de um artista plástico na mansarda do mesmo. Acreditamos por isso ser o que melhor serve os nossos objectivos e os da comunidade envolvente.

O primeiro, segundo e terceiro andares deste imóvel poderiam vir a constituir o espaço físico necessário para a sede da associação, ateliers e zonas comuns dos artistas. Aqui decorreriam também uma série de eventos abertos ao público tais como: palestras, apresentação de filmes e documentários, debates, formações pontuais, open studios, performances e concertos experimentais.
Não temos conhecimento de mais nenhum espaço com as características necessárias para albergar 20 estúdios de artistas que seja propriedade da Câmara Municipal de Lisboa. Estamos obviamente interessados em conhecer alternativas no caso de surgir algum impedimento a esta cedência.


3.2. Espaço Expositivo

Parafraseando Daniel Buren, o estúdio do artista é um espaço crucial pois precede a galeria e está intrinsecamente ligado a ela. Este artista diz ainda que estes dois espaços constituem a fundação do mesmo sistema. As transformações necessárias não se limitam portanto ao estúdio. É preciso alterar profundamente o dímero estúdio-galeria sem abolir a divisão existente entre os dois. Consequentemente é fundamental encontrar um espaço expositivo alternativo que dialogue com o estúdio e o público completando e mediando as suas expectativas mútuas.


O estúdio apesar de ser um espaço privado e experimental é também onde vai o galerista, o curador e críticos que seleccionam trabalhos, o que o torna não só um espaço de produção, armazenamento, selecção e até centro de distribuição. É o espaço original em relação com o espaço promocional (galeria).

Daniel Buren, The Function of the Studio


O espaço expositivo que é concordante com o que pretendemos realizar, tem necessariamente de ser térreo, ter uma grande área aberta e um pé direito superior a 3,5 metros. Uma outra característica que seria desejável é a facilidade de realizar cargas e descargas, entrada e saída de trabalhos de grandes dimensões.

A carpintaria de S. Lázaro parece-nos ideal não só pela sua proximidade do nº94 da mesma rua como por se encontrar na área envolvente do Martim Moniz.
Dado o mau estado do edifício temos planeado um intervalo de tempo (de 6 meses a um ano e meio) em que este seria utilizado para oficinas de escultura e outros projectos. Durante este tempo o imóvel seria recuperado[1] de forma a possibilitar a sua utilização pública posterior. Estamos dispostos a torná-lo um espaço expositivo alternativo ao circuito existente, ou seja, uma galeria de grandes dimensões disponível para artistas emergentes ou outros que apresentem projectos aliciantes.
Dado que podemos não estar ao corrente de alguma informação relativa a este armazém, apresentamos em seguida uma alternativa interessante. O espaço que se encontra no jardim 9 de Abril[2], números 18 e 20, junto ao Museu de Arte Antiga tem um potencial enorme que serviria na perfeição os nossos objectivos. Este armazém não só tem as características físicas acima descritas como não necessita de restauros tão profundos, permitindo uma utilização quase imediata como espaço expositivo. Para além de tudo isto esta localização poderia trazer público do Museu de Arte Antiga às exposições de arte contemporânea e vice-versa.



3.3. Porquê a preferência pelo Martim Moniz?

Em estudos recentes de investigadores universitários portugueses a praça do Martim Moniz foi considerada “o miradouro da vida contemporânea” da cidade de Lisboa. Poderá ser a menos nobre das três praças, da Baixa Lisboeta, mas é hoje a localização ideal para o nosso projecto. Aqui surgem novos grupos multiculturais de lisboetas, os “Chineses”, “Indianos”, “Africanos”, “Eslavos”, etc.


São estes (imigrantes) que, ocupando os interstícios da sociedade e da sua economia, animam as praças e seus recantos, trazendo vida a espaços públicos que a sociabilidade lisboeta não habita de forma permanente. São também eles que, eventualmente, trazem as cores de multiculturalismo [...] atraentes para as classes médias consolidadas, que podem, sem ameaçar a sua identidade, ocasionalmente trocar o consumo da tradição pelo da variedade e aderir a um cosmopolitismo celebrado no momento contem­porâneo.
Cristiana Bastos[3], Lisboa, século XXI, 2004


Em contraste com o Rossio e a Praça da Figueira, esta está cheia de árvores e arbustos, de equipamento urbano e de pessoas que ali param de uma forma mais demorada. Nos edifícios laterais, os centros comerciais baptizados de “Martim Moniz” e “Mouraria”, albergam um comércio vibrante com um alto nível de recursos para a produção artística.

Aquando da renovação desta praça, a Câmara Municipal de Lisboa tentou fomentar o comércio e actividades artísticas disponibilizando quiosques metalizados para o efeito. Dado que estes equipamentos eram desadequados para qualquer produção criativa, esta componente do plano não foi bem sucedida. Apesar disso esta tentativa demonstra desde logo que várias condições muito interessantes ao desenvolvimento de iniciativas na área das artes já foram identificadas previamente.

Acreditamos portanto que o Martim Moniz deveria ter um papel muito mais importante na cidade de Lisboa, muito especialmente devido ao seu potencial para a prática artística. A carga mítica que o seu nome carrega deveria levar-nos a todos a abrir as nossas portas a esta praça em vez de tentarmos ignorar o fenómeno cultural em que se tornou. Temos esperança que projectos como a BASE CURVA vão a pouco e pouco esbatendo a clandestinidade que habita o Martim Moniz e que assim ele vá reconquistando o coração dos Lisboetas.



3.4. Interesse Público

O presidente da autarquia, António Costa, considerou que a existência de prédios devolutos na cidade (cerca de 4600, dos quais aproximadamente 600 são do Estado e da própria Câmara) constituem "uma chaga que urge resolver".

Retirado da página oficial da CML

A associação BASE CURVA acredita na proactividade e na necessidade de participação dos cidadãos que ofereçam alternativas viáveis à resolução de problemas sociais como este. Acreditamos também, que apenas a classe política tem as ferramentas necessárias para solucionar esta situação. No entanto, no caso particular dos edifícios que nos forem cedidos, comprometemo-nos com a sua conservação[1] e protecção de todos os riscos que actualmente os assombram (incêndios, ocupação ilegal, degradação da estrutura do edifício e do seu recheio). Não são apenas os casos mais mediáticos que nos levam a dar relevância a este aspecto. Sem necessidade de salientar o recente incêndio na avenida da Liberdade, podemos referir por exemplo o Palácio Folgosa, que se encontra no início da Rua da Palma. Este foi totalmente vandalizado (canalizações, tectos falsos e até material eléctrico foram removidos da propriedade). Essa transformação ocorreu muito rapidamente num edifício que agora passou a precisar de um investimento desproporcionado, considerando que ainda recentemente alguns serviços da Câmara Municipal de Lisboa lá operavam.
Uma das principais contrapartidas socioculturais da associação BASE CURVA é o facto de esta poder vir a representar o início de um novo ciclo de criatividade urbana.
No livro a Cidade Criativa, de Charles Landry e Franco Bianchini, podemos verificar que noutros países já foram encontradas respostas para uma série de problemas urbanos tendo por base a arte e a indústria criativa. Conseguiu-se assim intensificar a interacção com as comunidades étnicas, regenerar edifícios devolutos ou em más condições e revitalizar o centro das cidades.
As novas oportunidades que irão surgir para a classe criativa, o espaço público onde a crítica e os debates podem surgir, são sem dúvida uma outra vantagem deste projecto.
A nossa actividade profissional nos estúdios, as iniciativas abertas à população, os projectos de rua e o espaço expositivo, irão revitalizar a cidade, trazer novos públicos a esta zona, alterando o ambiente sociocultural do Martim Moniz.
A médio prazo pretendemos estabelecer também parcerias internacionais com a finalidade de promover e alargar o intercâmbio de experiências artísticas.
Reconhecendo o valor deste projecto, fomos já contactados pela associação de mediadores culturais da Culturgest (associação EMA) com quem iremos colaborar em iniciativas periódicas envolvendo nomeadamente o público infantil.



4. Programa

Não é possível definir o programa e a sua calendarização antes de sabermos qual espaço cedido e as condições em que se encontra. Passados 6 meses de permanência no edifício, será entregue um programa detalhado para um período de 2 anos. O que podemos fornecer para já é a lista das actividades abertas ao público e definir a sua frequência aproximada.

Na sede e estúdio irão decorrer:

· Festa de inauguração

· Apresentação e crítica de práticas artísticas de associados e de artistas contemporâneos (mensalmente)

· Reflexão e debate de exposições (de dois em dois meses)

· Apresentação de filmes e documentários (semanalmente)

· Performances (a definir pelos artistas)

· Concertos experimentais (a definir)

· Formações pontuais – workshops ocasionais para o público e outros de formação técnica e artística para os associados (a definir)

· Conferências pluridisciplinares (de dois em dois meses)

· Visitas guiadas pela associação EMA aos estúdios dos associados (de dois em dois meses)

· Open studios – a população em geral, artistas, críticos, comissários, galeristas e outros agentes culturais serão convidados a visitar os estúdios dos artistas (com uma frequência igual ou superior a 3 vezes por ano)


Actividades na área envolvente ao Martim Moniz:

· Exposições e performances de rua (a definir)

· Exposições simultâneas em espaços alternativos (anualmente)

· Projectos colectivos e colaborações baseados nos recursos locais (anualmente)




Publicações:

· Publicações online (semanalmente)

· Catálogos para as exposições organizadas

· Revista de arte contemporânea (projecto a longo prazo com frequência a definir)


Espaço expositivo gerido por artistas:

· Concursos para curadores (a definir)

· Concursos para artistas plásticos (a definir)

· Exposições dos associados (a definir)

· Exposições de artistas convidados (sempre que uma proposta seja aceite pelos sócios e seja compatível com a agenda da galeria)

· Residências organizadas através de parcerias com organizações semelhantes (a definir)

· Promoção e divulgação do espaço nos media




3. Conclusão


O Martim Moniz e a sua área envolvente são sem dúvida o centro multiétnico de Lisboa e por isso um dos focos da nossa actividade e acções artísticas. A criação de novos discursos artísticos contemporâneos será certamente uma consequência deste projecto e para isso a contribuição da Câmara Municipal de Lisboa é crucial.

Tendo em conta o progressivo alheamento da população, no que respeita à comunidade, mostra-se urgente a construção de novas bases de criação artística e espaço público que o combatam. É neste contexto que surge a necessidade de debater ideias, criticar produções culturais e renovar conceitos tal como nos propomos fazer.



[1] A manutenção do exterior do edifício continuará a cargo da Câmara Municipal de Lisboa
[2] Onde se encontra a rua Presidente Arriaga e a rua das Janelas Verdes
[3]Investigadora no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa

Logo Base Curva (1ª tentativa)


A minha biblioteca em Lisboa


nº94 da Rua de S. Lázaro


Sonho I


Carpintaria de S.Lazaro


Sonho II


Coisas

Não adianta prometer que se começa até se começar.
Não vale a pena tentar forçar o tempo a passar. As coisas acontecem quando têm de acontecer dentro da ordem natural das coisas. Este blog é uma barreira mais do que uma ferramenta para comunicar... Esperei que mais ninguém cá voltasse. Esperei que saísse dos hábitos diários das pessoas. Era uma vontade inconsciente esta de fazer os visitantes desistir apesar da pena que tive em perde-los. Agora resta-me recomeçar devagar. Resta-me sentir o espaço que passou entretanto e perguntar ao tempo quanto tempo o tempo tem. Faltam tantas pessoas hoje no meu mundo., parece que desapareceram. Parece que mudaram muito e se esqueceram convenientemente que eramos amigos. Há sempre coisas que acontecem entretanto. Mas muitas pessoas novas surgem. Algumas também que mudaram e que no entanto nós amamos tão profundamente que isso passa a ser irrelevante.