5.02.2006

O Hipertenso

Há stress a mais no ar que respiramos
E a angústia de não ter tempo
O hipercontrole dos horários
A repetição das tarefas
A previsibilidade dos pensamentos
A ausência de sentimentos intuitivos
Uma racionalidade extrema repleta de doença
Uma forma científica de viver em função de alguém
Um desperdício de momentos e verdades
Que fogem ao olhar de quem grita
Que escapam a todos os que não andam para correr
A todos os que não aprendem para estudar
Os que folheiam para não ler
Os que fazem sexo para não amar
Os que nem sexo fazem para não perder...
Mas perder o quê?
Não perder tempo.
Um tempo que corre mais rápido para ele
Como se fosse só para o torturar

Ele não percebe o que é pensar
Nem o que é isso de parar para evoluir
E uma crise para elas já não é uma biforcação...
Passou simplesmente a significar depressão.

O que é isto que mata tanta gente?
É a tensão que criamos uns nos outros
Quase como uma necessidade absoluta de chegar cedo
Mais cedo do que um outro eu imaginado à pressão

Acelera-se um motor, buzina-se, chora-se, bate-se
Passam-se os vermelhos e os amarelos
Carregam-se em mais teclas
Os stops estão lá para enfeitar
Os cursos para acabar
Os companheiros para se separarem
As famílias para se zangarem
E a televisão para hiper-estimular
A música para não haver silêncio
Os amigos para ir sair
O café para dar speed
O cigarro para acalmar
Poluindo um interior mais negro do que se imagina

Não há tempo para cozinhar
O micro-ondas serve para tudo
Não há tempo para conversar
Só para passar informação ou chatear
A agressividade cresce e mata
Os deveres tomam conta de cada segundo
Os instantes tinham de ser eternidades
Só para que um dia o hipertenso pudesse relaxar
Acordar para as maravilhas de parar
De sentir o mar... a floresta... a viagem... o silêncio... o espaço.

O hipertenso não viaja, faz turismo.
Nem pedala, acelera.
Coitado nem sequer pode sentir.
Falta-lhe tudo.
Esqueceu-se de acreditar no que faz.

No comments: